Interpretar a heroína de uma novela das nove é tarefa árdua. Mas Paola Oliveira experimentou uma situação completamente inusitada na pele da romântica Marina de Insensato Coração: defender um amor que demorou cerca de quatro meses no ar para se estabelecer. Uma situação que até recebeu críticas, mas serviu para a atriz buscar recursos cênicos diferentes e se manter alinhada com o perfil proposto na sinopse da novela.
"O maior desafio de fazer a Marina foi deixá-la o mais real possível. As pessoas esperam que o amor seja mostrado como estamos acostumados a ver na televisão. E, quando não encontram isso, questionam se aquilo vai dar certo. Eu acho que a Marina é uma mulher real, que pode ser vista nas ruas", defende. Agora, com a reviravolta que fez a designer se envolver com o cunhado Léo, Paola garante que já há uma torcida forte para ver sua personagem novamente nos braços do piloto Pedro, interpretado por Eriberto Leão. "Mas muita água ainda vai rolar. Estamos só no meio da novela", pontua.
TV Press - A Marina é sua primeira protagonista nesse horário. Qual é a diferença de interpretar uma mocinha na faixa nobre?
Paola Oliveira - Não é bem uma diferença, mas uma coisa que me surpreendeu foi o casal principal ter ficado muito tempo sem se encontrar. Foi uma estrutura diferente de novela, sem dúvida. Normalmente, a gente estabelece o casal e, depois, separa. Até para que as pessoas torçam pela reconciliação. Os autores criaram uma situação artisticamente difícil e nova. E tudo que sai do padrão pode causar certa estranheza, é normal.
TV Press - Foi difícil lidar com isso?
Paola - Algumas pessoas reclamavam um pouco, mas eu vim de novela das seis. As histórias dessa faixa têm aquele ar platônico, um amor meio impossível ou que não existe. Eu já tinha passado por isso antes. Sendo novela das oito, onde a base costuma ser o realismo, pode ficar mais difícil para quem está assistindo. Mas inovar é importante.
TV Press - Como atriz, você sentia falta de uma proximidade maior com o Eriberto em cena? Vocês contracenaram muito pouco até o encontro recente do casal...
Paola - Eu ficava extremamente ansiosa. Tentava buscar as sensações que preencheriam a Marina durante esse período. Afinal, nem que seja uma vez na vida, quem nunca se apaixonou por alguém que viu uma única vez? Isso existe! Mas, para alguns, soava um pouco inverossímil. Tanto que o público chegou a torcer por personagens improváveis nesse percurso. Acabou dando um tempero diferente para a história.
TV Press - Como eram as reações do público?
Paola - As pessoas chegaram a torcer pelo Henrique (personagem do Ricardo Pereira) e perguntavam até se a Marina iria ficar com o Raul (vivido por Antônio Fagundes)! Cada vez que vinha alguém com quem ela era terna, com quem criava uma amizade, achavam que aquele era "o cara¿. Por isso que eu digo que foi uma estrutura bem ousada da parte dos autores. Vejo que as pessoas torcem cada vez mais pelos vilões e pelas maldades. Há uma luta das mocinhas para serem de novo alvo dessa torcida do público, ainda mais em uma novela das nove.
TV Press - Muitos defendem que os vilões são personagens mais charmosos.
Paola - Sim, os vilões têm seu charme. São eles que apimentam, dão o colorido às novelas. Isso é um fato, as maldades movimentam as histórias. Mas querer que os vilões fiquem cada vez melhores é que não pode. Quando fiz Cama de Gato, as pessoas curtiam as cenas da Verônica, mas com ódio dela. Vou lutar muito pela Marina e adoro quando vejo as pessoas torcendo para ela terminar bem com o Pedro. Porque é o certo. E, agora, isso se estabeleceu melhor. As pessoas já dizem "puxa, eles são tão bonitinhos juntos".
TV Press - Houve críticas ao casal formado por você e pelo Eriberto Leão. Como reagiu a esses comentários?
Paola - Eu não fiquei chateada porque a gente tem de fazer o que está escrito e a história era assim. Não dá para julgar se existe química ou não entre um casal enquanto os dois ainda não ficaram juntos. Insensato Coração teve vários personagens e o foco foi bem dividido. A estrutura ficou complicada para que nosso casal sobressaísse de cara. Mas, agora, chegou o momento.
TV Press - Você aparenta mais segurança em seu discurso hoje do que em trabalhos passados. O que mudou?
Paola - Toda vez que a gente está trabalhando, há dificuldades que só quem está envolvido sabe. Cada trabalho é um desafio novo e passar por eles convivendo com tudo que está por trás do que vai ao ar é difícil. Aprendi muito com Cama de Gato e, logo depois, veio Afinal, O Que Querem as Mulheres? e As Cariocas, que foram essenciais para mim. Em Afinal, então, aprendi além do que foi exibido. Ganhei demais ali. O trabalho do diretor Luiz Fernando Carvalho tira um pouco a gente do eixo. Era assim que eu estava me sentindo, na expectativa do que seria, de como iria ao ar. E cheguei aqui e peguei uma estrutura um pouco invertida. Tudo isso mexeu positivamente comigo. Nesse momento da novela, estou bem mais confiante mesmo. Já passamos pela fase mais difícil, que era estabelecer esse amor.
TV Press - Desde que você estreou, em 2004, não parou mais de trabalhar. Isso preocupa você?
Paola - Não. E sabe por que não me preocupa? Pois vai chegar o tempo de parar. É bom se renovar e não dá para fazer tudo mesmo. Sei que vou querer descansar em algum momento. Mas, hoje, isso não me preocupa. Até porque não foi uma vontade minha fazer tantos trabalhos, simplesmente aconteceu. E tem outro lado: As Cariocas foi só um episódio e Afinal, O Que Querem as Mulheres? teve seis capítulos. E ambas alcançaram um público diferente. É o cansaço que pode me fazer parar, não a exposição. Foram trabalhos diferentes, com equipes distintas.
TV Press - Você tem se voltado cada vez mais para a televisão. Sente falta de atuar mais em outras áreas?
Paola - Eu penso em outras coisas, não nego. Até fiz cinema, mas essa questão também é tem a ver com oportunidade. Se a gente tem chance de ir a um determinado lugar que é interessante, vai. Acho que eu tenho de pegar o que me oferecem e for bom. Fiz trabalhos de linhas bem diferentes. Não esqueço o teatro e o cinema, mas a vida tem se aberto e acontecido mais para mim na televisão mesmo. No futuro, posso pensar em parar para me renovar, me reciclar. Mas, agora, não me incomodo.
Subida meteórica
A carreira de Paola Oliveira na TV começou de maneira inusitada: a jovem foi assistente de palco de Celso Portiolli no programa Passa ou Repassa, do SBT, no final da década de 90. Mas sua vontade de ser atriz já se mostrava nas aulas de teatro que fazia na Oficina Mazzaropi, em São Paulo, e na escola de atores do diretor Wolf Maya.
A estreia em telenovelas, no entanto, ocorreu timidamente em 2004, quando integrou o elenco de Metamorphoses, na Record, oportunidade que não a tornou conhecida. A popularidade veio no ano seguinte, ao ser escalada para viver a sonhadora Giovana de Belíssima. "Dei muita sorte. Estava cercada não só de bons profissionais, mas dentro de uma família importante na história", lembra.
A repercussão foi boa o suficiente para Paola conseguir a chance de disputar o papel principal feminino de O Profeta, trama na qual viveu a sofrida Sônia. Agradou as autoras Duca Rachid e Thelma Guedes a ponto de receber delas o convite para viver a vilã Verônica de Cama de Gato. Antes disso, ainda marcou presença no "remake" de Ciranda de Pedra, na pele da charmosa tenista Letícia. "Se tivessem me contado, na época que fiz Belíssima, que meu futuro seria tão produtivo e com papéis desse porte, juro que não acreditaria", surpreende-se ela, que protagonizou ainda um dos episódios de As Cariocas e a minissérie Afinal, O Que Querem as Mulheres?.
A favorita
A entrada de Paola Oliveira em Insensato Coração foi atípica. A atriz já estava escalada para um dos principais papeis de Cordel Encantado quando foi chamada para substituir Ana Paula Arósio na trama de Gilberto Braga e Ricardo Linhares. "Foi diferente de tudo que já vivi. Recebi a notícia, fiquei tensa, tive minutos de êxtase e pensei que logo tinha de trabalhar, ler, buscar todas as informações para esse trabalho", lembra.
Paola garante que não teve o poder de decisão sobre continuar na novela de Duca Rachid e Thelma Guedes ou se aventurar em sua primeira protagonista das nove. Mas, para um próximo trabalho, já imagina o que seria capaz de instigá-la, se pudesse escolher. "Agora, tenho vontade de fazer uma comédia. Interpretar uma perua, sei lá", indica.
Trajetória Televisiva
# Passa ou Repassa (SBT, 1999) - Assistente de palco
# Metamorphoses (Record, 2004) - Stella
# Belíssima (Globo, 2005) - Giovana
# O Profeta (Globo, 2006) - Sônia
# Ciranda de Pedra (Globo, 2008) - Letícia
# Cama de Gato (Globo, 2009) - Verônica
# As Cariocas (Globo, 2010) - Clarissa, no episódio A Atormentada da Tijuca
# Afinal, O Que Querem as Mulheres? (Globo, 2010) - Lívia
# Insensato Coração (Globo, 2011) - Marina
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